Curitiba e litoral catarinense

 

Se, um dia antes da viagem, alguém dissesse que o destino final seria o litoral de Santa Catarina, eu desconfiaria. A verdade é que, ainda que essa viagem tenha ocorrido nas férias, o intuito estava longe de ser turismo e por isso não planejamos nenhum roteiro. O que sabíamos é que estávamos indo de carro para um concurso em Curitiba (Ana, a concurseira e eu, o motorista e navegador). Finalizado o processo, poderíamos aproveitar que já estávamos no Paraná e ir até Foz do Iguaçu-PR, ver as cataratas, conhecer a região do oeste paranaense e quem sabe o início do Paraguai. Outra possibilidade era irmos ao PETAR (Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira), onde tem umas cavernas cabulosas e cachoeiras bacaninhas. Ou, já que íamos passar por Passos-MG no retorno para visitar meus sogros, poderíamos fazer um tour pelo sul de Minas. Contudo, Florianópolis estava, sim, no radar. Embora Foz do Iguaçu mais ao centro. Ana se preocupava somente com o concurso, por óbvio.

Saímos daqui (Patos de Minas) na quinta-feira pela manhã, dia 13/07, com o intuito de dormir no meio do caminho (em Campinas-SP ou Registro-SP) e finalizar até Curitiba no dia seguinte. A prova ocorreria domingo, dia 16/07. Deu tudo certo. Dormimos em Registro. Mas não antes sem tomar um susto. O líquido da bateria do carro “supitou”, como diz o vocabulário goiano. Extravasou. Foi de arrasta para cima. Tinha mais ácido do que em Woodstock. Saiu maior cheirão podre e estávamos achando que era algo externo. Demoramos a perceber. Ao pararmos em um posto para abastecer, cerca de 80km de Registro, dei a partida e o carro não ligava mais. Por sorte (no azar) havia uma oficina atrás do posto de gasolina e desembolsamos uns 330 mirréis por uma bateria nova de marca chinfrim. No dia seguinte, bem pela manhã, resolvemos visitar o Bosque Municipal de Registro. Limpo, mas pequenininho e vazio e meio borocoxô. Contudo, avistamos pela primeira vez o Tiê-Sangue, um pássaro do porte de um canário e que é a ave símbolo da Mata Atlântica. Mal sabia eu, mas ainda ia ouvir falar bastante sobre a Mata Atlântica nessa viagem. É que o tema sorteado da prova do concurso, 24h antes, foi biomas brasileiros. Daí, como eu era o único público disponível para Ana treinar sua aula, fui obrigado a ser um aluno assíduo e atento. Mas estudei tanto que fiz mais do que isso e a ajudei a organizar uma apostila como material didático.

Os dias que antecederam o concurso, passamos basicamente trancados dentro do quarto do hotel, que alugamos próximo à rodoviária. E isso se deu não apenas pelo concurso, mas pelo frio tiritante que fazia em Curitiba. A janela amanhecia sempre coberta por uma névoa úmida. Para não dizer que não saímos, nesse ínterim, fomos ao Mercado Municipal almoçar (tudo caro!) e, noutra oportunidade, saí em missão para procurar estróbilos de araucária para serem utilizados como ilustração na aula. Não sabe o que é um estróbilo? Eu não lembrava. Pesquise. Mas, hein, as araucárias são uma belezinha, viu. Na estrada, a gente sabe que está entrando no Paraná quando começa a mudar a vegetação e aparecer centenas de milhares de araucárias. Para não dizer que Curitiba foi só trabalho e frio, visitamos dois pontos turísticos interessantes e vou discorrer sobre eles. 

 

Copa das cerejeiras no Jardim Botânico, Curitiba

Jardim Botânico de Curitiba

Já haviam me falado sobre o Jardim Botânico de Curitiba (acho que a própria Ana), mas pensava que seria bastante parecido com o do Rio de Janeiro. Não é não. O do Rio é menor e mais fechado, com relação à vegetação. Menos bonito, sem dúvidas. O de Curitiba é um verdadeiro parque, aberto, e um jardim que realmente parece um jardim. Há um belo caminho no meio das cerejeiras (demos sorte de pegá-las floridas) que leva a um jardim gigante que, por sua vez, lembra em alguma medida o jardim à frente do Museu Paulista em São Paulo. Muito bem cuidado e simétrico. Tão simétrico que dava até medo. Após o jardim, há duas estufas. A que mais chama atenção tem formato de castelo transparente, que é bonito por fora, mas que por dentro, blé. Havia muitos turistas no Jardim de Curitiba e isso me surpreendeu. Não imaginava que a cidade recebia tantos turistas assim. Outra coisa que surpreendeu foi a presença da comunidade japonesa. Inúmeras referências da cultura nipônica e muitos descendentes. Também dentro do parque, fazendo a volta até a saída norte (?), há um lago e sobre ele uma charmosa ponte de madeira. Depois dela, uma galeria para venda de bugigangas turísticas, artes e plantinhas.

Estufa em formato de palácio do Jd. Botânico, Curitiba


Parque Barigui

Olha, se for contar por extensão em tamanho o Barigui só perde para o Ibirapuera entre todos os parques que já visitei. Quando você acha que acabou tem outra parte que você nem imaginava que existia. Mas assim, não é tão belo quanto o Ibirapuera, o Parque do Sabiá ou o próprio Jardim Botânico. É um parque funcional. Fundamentalmente para praticar esportes ou passeio ao ar livre sem grandes distrações. Há grandes lagos e há um córrego. Capivaras e cutias. Patos e marrecos. Martim pescador e tudo mais. Há uma grande pista pavimentada de caminhada e bicicleta. Há uma trilha para quem quer andar a pé ou de bike dentro de uma floresta (e que fomos só até o comecinho). Há parquinhos para crianças. Espaços para churrasco (não sei se liberam) e piquenique. Há várias quadras de, principalmente, areia, onde uma galera jogava vôlei ou beach tênis (que modinha, hein!) e virava tobogã de bicho geográfico. E é isso. Quando termina, precisa atravessar por um viaduto (dentro da área do parque) que passa embaixo da avenida e dá na outra parte do parque que, sinceramente, não chegamos a explorar. Mas dava para ver um lago imenso e mais outros espaços iguais aos que tínhamos visto. É realmente enorme e até cansamos de andar.

 

Um dos poucos lugares com mata fechada do Parque Barigui, Curitiba

Balneário Camboriú

Finalizado o rolê em Curitiba, partimos para Florianópolis. Mas acabamos saindo relativamente tarde da capital paranaense (após um almoço na casa de Danilo e Elis, amigos de Ana) e por isso atrasamos. Chegamos a parar em Joinville-SC para abastecer e comer alguma coisa. Contudo, preferimos não tocar direto até Floripa e paramos para dormir em Balneário Camboriú-SC. Por ser um local turístico, acreditávamos que encontraríamos facilmente um hotel tranquilo e barato para dormir, já que fazia frio na semana e o céu não estava para praia. Longe disso. Lembrando que não havia muito tempo desde que um ciclone havia passado pela região. Porém nos engamos. Depois de comer um hambúrguer (em uma hamburgueria cujo dono era um sósia do véio da Havan), rodamos bastante na cidade e não encontramos nada digno e justo. Ou era quarto compartilhado ou era cativeiro ou era com aquele preço candango: uns 300 por uma noite de sono. Daí resolvemos aceitar o convite de uma amiga que morava em Uberaba (Amanda) e que hoje vive com os pais aposentados em Balneário.

 

Fim do Deck do Pontal Norte, Balneário Camboriú

No dia seguinte, Amanda nos levou para conhecer a orla da cidade. E o que dizer sobre a “Dubai brasileira” que a direita farialimer daqui tanto louva? Bonita a cidade. Um tanto cafona? Sim. Tenta emular uma Miami? Também. Mas tem partes bonitas. Mas, claro, não estou me referindo àqueles prédios gigantescos sem sentido fazendo sombra na faixa de areia, aliás, aumentada artificialmente para fugir das sombras. Isso é tosco. Nem da própria praia em si, que é padrãozinho e o dia nublado não a ajudava. Também não me refiro à rampa que fizeram para lembrar uma Bervely Hills de baixo orçamento e nem à roda-gigante na praia. Breguíssima. G-zuis! Mas Amanda nos levou no Deck do Pontal Norte, que vai contornando parte da orla e chega até umas rochas (sim, essas naturais) e uma prainha, e que parece um pedaço do litoral caiçara. Ali é bonito, ali é bacana, ali eu queria estar.

 

Florianópolis

Dali a alguns quilômetros de rodovia e, passando a ponte, estávamos na ilha de Florianópolis. A ilha da magia, disseram. Tem um clima de cidade grande, uma vibe metropolitana, com trânsito relativamente caótico (não tanto quanto o de Curitiba) e transeuntes agitados. Pela primeira impressão achei a cidade bonita e isso se confirmou pelas praias. Eu diria que Florianópolis é peculiar. Quando se sai do centrão, dos pontos agitados nos arredores do centro e chega-se nos bairros, parece uma cidade pequena de interior. O trânsito fica mais lento, as pessoas menos agitadas e o clima turístico. É como se existissem algumas cidades dentro de uma. No meio da ilha, aparentemente há bastante preservação da natureza. É grandinha. Estávamos hospedados no litoral leste da ilha. Mas precisamente próximo à famosa praia da Joaquina, onde o Guga surfava. E, em um dos dias, fomos de carro no sentido nordeste da ilha. Possivelmente rodamos uns 40km mais ou menos até chegar no final. Nesse passeio constatamos que havia realmente várias cidades dentro da cidade de Floripa. O tipo de ocupação urbana vai se alterando conforme o setor (“igual a toda cidade”, você deve pensar), mas eles são separados uns dos outros por áreas florestais.

 

Pose de segurança na Barra da Lagoa, Florianópolis

Entre os lugares que visitamos e que me chamou a atenção pela beleza intimista está a Barra da Lagoa. Me pareceu menos turístico e mais de moradores e pescadores. Mas ali ao lado de uma pequena península (ou geograficamente seria um cabo?), desce um córrego de águas verdes da lagoa da Conceição que achei muito charmoso, lembrando os canais de Amsterdã (que um dia pretendo conhecer presencialmente). Da Barra da Lagoa passamos rapidamente pela Praia dos Ingleses e Canasvieiras, onde, nessa última, paramos para tomar um açaí e um café (cada um com os seus). Na Praia da Joaquina, sim, demoramos mais tempo. Gastamos um terço do dia mais ou menos nela. Que lugar bonito! É um combo de belezas: as dunas, a restinga, as rochas da praia e a praia em si. Andamos no meio da restinga como se estivéssemos gravando algum documentário da National Geographic. Bem, depois de ter algumas aulas sobre os domínios associados do bioma Mata Atlântica ficou mais “instigante” conhecê-los de pertinho. Nesse dia o sol resolveu abrir um pouco e fez um dia bonito, embora a temperatura ainda não nos convidasse para a água. No caminho em direção à Joaquina, logo depois de sair da pousada, aconteceu uma das coisas que mais marcaram essa viagem. Conto no próximo parágrafo.

 

Restinga da Praia da Joaquina, Florianópolis

Desde que comecei nesse rolê passarinheiro (observar e fotografar aves) que qualquer passeio ao ar livre se torna pretexto para procurar os penosos mais diferenciados. E nessa viagem para o sul não foi diferente. Contudo, devido ao frio e mau tempo, não nutria grandes expectativas. No entanto, esperava que, pelo menos, conseguiria avistar a Gralha-Azul, ave símbolo do Paraná e cujo prato principal (se é que podemos dizer assim) é o pinhão da araucária. Pois bem. Em Curitiba, nada de avistar a famosa gralha. Nem na cidade, nem nos parques em que fui. Decepção. Vi outros pássaros, mas nada demais. Descobri que Curitiba é a capital dos sabiás-laranjeiras. Estão em todos os lugares. Enfim, acabei desencanando da gralha. Me dei por vencido. Florianópolis estava fora de cogitação. Sabia que a área da gralha era restrita e pelo fato de ter sido um animal em extinção nos anos 90, inferi que minhas chances eram baixíssimas. Eis que, no dia do passeio na Joaquina, logo que saímos da pousada, começamos a ouvir um barulho diferente de pássaros e que logo nos chamou a atenção. Ana teve olhos mais atentos do que os meus para observar que, provavelmente, se tratava de uma gralha-azul. Uma nada! Era um bando delas. Cantarolando aos quatro ventos e comendo a semente do pinheiro (o pinus, não a araucária). Aí eu fiquei maluco. Bicho inquieto e difícil de fotografar. O céu nublado e a ausência de luz nessa estradinha não ajudavam, mas, ainda assim, foi possível tirar algumas fotografias para registro. Posteriormente, ao subir a foto no Wikiaves, descobri centenas de registros da gralha-azul em Floripa. Muito mais do que em Curitiba. Desconhecimento meu. O recepcionista da pousada revelou que elas realmente são muito comuns em Florianópolis e que, “infelizmente, se adaptaram à vida urbana da ilha, comendo de um tudo, inclusive lixo” (palavras dele).

 

Gralha-azul, Florianópolis

Trilha da Lagoinha do Leste

Já que a temperatura não ajudava entrar na água, a ideia era realizar uma trilha no último dia em Florianópolis. Demos uma olhada e decidimos fazer a trilha da Lagoinha do Leste, sentido sul/sudeste da ilha. Fomos até o último bairro residencial de carro, Açores, demos uma olhada (praia bonita, mas moradia de burguês) e voltamos para o bairro Pântano do Sul, onde começamos a trilha. Na verdade, havia duas opções, uma que passa pela Praia do Matadeiro, que nos disseram ser mais fácil, entretanto, mais demorada. E outra, pelo Pântano do Sul, mais íngreme, difícil, porém (supostamente) menos demorada por ser mais curta. Até fomos à Praia do Matadeiro colher informações. Mas vocês sabem bem qual das trilhas escolhemos, né? Não sei se por cálculo equivocado (leia-se “burrice”) ou espírito aventureiro (ou as duas coisas). Lá vamos nós sem almoço pelo lado do Pântano do Sul. O início é tranquilo. Para quem já fez alguma trilha na vida, é suave. Mas daí você anda, anda, anda e não chega ao destino final (que é um mirante). A trilha começa a ficar difícil. Trechos íngremes. Pedras e mais pedras. Raízes, mais raízes. Há várias bifurcações e por diversas vezes achávamos que estávamos perdidos. Desorientados, sem dúvidas. Desconfiados que estávamos indo no caminho errado, sempre. Obviamente, devido ao tempo e ao avançar das horas, só tinha a gente nessa trilha. Mas enfim, depois de muita suadeira, indecisão e arrependimento, chegamos ao mirante Morro da Coroa. E aí, meus amigos, é o seguinte: simplesmente fenomenal! Muito alto. Uma das vistas naturais mais bonitas que tive. Rivaliza com a beleza do lago Titicaca no alto do Cerro Calvário. Ao norte, avista-se a Praia da Lagoinha do Leste, desértica. Antes dela, um rio serpenteia entrecortando a Mata Atlântica preservada. Ao leste, a imensidão azul do oceano Atlântico. Valeu toda a dor e sofrimento.

 

Morro do Coroa, fim da trilha Lagoinha do Leste, Florianópolis

A volta foi bem mais rápida do que a ida, agora que sabíamos o caminho. Sabe como é, para descer todo santo te empurra. Chegamos por volta das 17h30 no vilarejo do Pântano do sul, varados de fome. Por coincidência, paramos em um restaurante tradicional do bairro. Trata-se do Bar do Arante. Funciona desde a década de 70. Pagamos barato numa porção de peixes com arroz e outros acompanhamentos. A despeito da fome, veio tanta comida que não conseguimos finalizar tudo. Este restaurante possui uma característica especial. Cada visitante escreve um bilhetinho, um recado, uma frase em um papel e prega na parede. E lá fica. Portanto, havia milhares de bilhetes espalhados pelas paredes. De gente de tudo quanto é canto do Brasil e até do mundo. Um bilhete provavelmente escrito em turco (?). Recados de amor. Pensamentos de (suposta) sabedoria. Frases de para-choque de caminhão. Provocações. E por aí vai. Tinha tanto bilhete que faltava espaço para pregar mais algum. Por isso não deixamos nada senão nossos mirréis justamente pagos pelo almoço às 18h.

 

Janela do Bar do Arante, Florianópolis (isto não é um quadro)

Guarda do Embaú

Passamos nossos dois últimos dias de viagem sulista em Guarda do Embaú (uns 70km da Praia da Joaquina), uma vila dentro da área municipal de Palhoça-SC. A ideia era conhecer o local que havia sido bem recomendado (Elis e meu primo Vinícius tinham falado muito bem) e aproveitar mais trilhas. Sim, não aprendemos nada com todo o martírio que havíamos passado há pouco. Nas suas devidas proporções (bem menores), Guarda do Embaú se assemelha a Pipa ou qualquer um desses vilarejos praianos hippie-chique. Bonitinha. Ficamos em um chalé ajeitado.

No mesmo dia de chegada decidimos fazer uma trilha. Só para esquentar os pulmões. Vale da Utopia. Nossa anfitriã recomendou que fôssemos costeando a orla da praia, passando na lateralzinha que iríamos chegar ao vale. Lá fomos nós. Primeira parada, um conjunto de rochas chamada de Panorama, de onde há uma bela vista. Subindo e descendo morros da restinga, fomos passando em prainhas e enfrentando um sol estatelado. Até que chegou uma parte do relevo que não havia mais praia, nem rochas espraiadas. Era preciso subir um morro de gramíneas e uma leve erosão. Um cachorro apareceu do nada e começou a nos acompanhar. Mais na frente, ao passarmos por uma cerca: bois e vacas (!). Não lembro de ter visto criação de vaca do lado da praia. Depois dessas vacas, arbustos e mais arbustos. Seguimos. De repente nos afastamos do trilheiro (caminho por onde passam animais) e as árvores começaram a aumentar de tamanho e a mata se fechar. Pronto, estávamos perdidos. Na verdade, eu, particularmente, estava exausto nesse dia. Não havia dormido bem na noite anterior e talvez nem me recuperado completamente da outra trilha. Além disso, carregar uma mochila com uma câmera de três quilos, torna tudo mais puxado. Arreguei. Não quis tentar achar outros caminhos como Ana gostaria. Voltamos. Decepcionados por não termos chegado ao destino almejado.

 

Cenários que se avistam a caminho do Vale da Utopia, Guarda do Embaú

No dia seguinte, logo bem cedinho, fomos ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro com o intuito de encontrar alguns penosos. Não achamos nada. Nem as antas que costumam ser fotografadas estavam de bobeira. Mas foi bacana conhecer o parque e bater um papo com os monitores, uma bióloga (e sua filhinha “assistente”) e um ecólogo. Depois voltamos para terminar o que havíamos começado sem finalizar no dia seguinte: Vale da Utopia. Desta vez com um roteiro diferente. Em vez de fazer o acesso pela Praia da Guarda, fomos para o outro lado, pela Praia da Pinheira (Pinheira é outra vila, paralela à Guarda do Embaú, onde há várias praias também). Deu certo, fomos pulando de pedra em pedra até a Ponta das Andorinhas. Tiramos umas fotos nesse belo local que possui variadas formações rochosas feitas pelo bater das ondas e, depois, seguimos subindo o morro pela trilha. Nos perdemos um pouquinho, encontramos um casal também perdido, atravessamos fazendas, mas dali a poucos minutos estávamos chegando ao Vale da Utopia. De fato, muito bacana. Mas já tínhamos ido a outros lugares tão ou mais belos nessa viagem e por isso nosso padrão estava alto. O nome promete demais.

Nesse mesmo dia, já cansados, pensando somente em tomar um chopp de leve e ficar na orla da Praia da Guarda, fomos fazer isso. Só que aí avistamos uma placa sinalizando a subida para a Pedra do Urubu. Outra trilha! Outro mirante! Mas já começava a entardecer. Umas 16h por aí. A gente sem água, sem vestimenta nem calçado adequado (Ana portando uma havaiana genérica). Copo de chopp na mão. “Ah, bora nessa bagaça”. “Já que estamos aqui mesmo”. Frases ditas antes da desgraça acontecer. É verdade que eram só 30 minutos. Mas a escalada era íngreme e tortuosa. Tinha uma galera morrendo de canseira no meio do caminho. Para a gente, depois de todas as aventuras com trilha, essa foi a mais leve. O álcool deve ter ajudado. Menos de meia hora estávamos em cima do morro contemplando uma vista maravilhosa para a praia, a vila e o oceano. Na descida, Ana foi desafiada e resolveu entrar cinco minutos no mar gelado. Fechamos com glória Guarda do Embaú.

 

Alto da Pedra do Urubu, Guarda do Embaú

Praia do Rosa

“Mais praia? Não cansa, não?!” O passeio no Parque da Serra do Tabuleiro nos rendeu uma informação que nos escapava. O ecólogo que lá trabalhava nos disse que estava em temporada de baleias (período em que as baleiras-francas vêm para o litoral brasileiro) e que seria fácil avistá-las. Ele falou sobre um aplicativo no celular que seria possível fazer esse monitoramento. Baixamos. Havia registros de avistamento a uns 80km de Guarda do Embaú, sentido sul, na cidade de Imbituba-SC. Mais precisamente na Praia do Rosa. Daí isso se tornou nossa última missão. Com o mesmo espírito de “ah, já estamos aqui mesmo, bora!” acordamos bem cedo, fechamos a conta no chalé, botamos as malas no carro e seguimos para a praia das baleias. As expectativas eram baixas e nos questionamos dessa decisão algumas vezes, já que o objetivo era voltar para casa (melhor dizendo, para Passos) nesse mesmo dia. Fazia sol, era perto das 9h quando chegamos na praia. Uma galera lançava as vistas ao mar para ver se flagrava alguma coisa. Esse evento é realmente um evento. Em nossa defesa, não era só a gente de “bobo” ali, não. Havia outros. Uns 20 minutos depois de espera, eis que surgem partes da baleia a uns 500m de onde estávamos. Ela estava tímida. Só deixava parte do corpo de fora. Depois mergulhava, desaparecendo de nossos olhares. Ainda assim, foi uma experiência ímpar avistar uma baleia. Cara, é uma baleia! Saímos felizes e recompensados. Missão cumprida. Uma alegoria de toda essa viagem pelo litoral catarinense: entregou mais do que esperávamos. O pouco que foi muito.

 

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Escrito em: 18 e 30 set.

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