De volta ao litoral caiçara – Ubatuba (Praias Grande, de Santa Rita, de Itamambuca, das Conchas) e Paraty (Trindade, Jabaquara, Barra Grande, Poço do Tarzan)

BR 101, Ubatuba-SP


Por que muitos goianos nunca viram o mar? É simples. A praia mais próxima fica a mais de 800 quilômetros de distância (acredito que sejam as de Santos-SP). É chão, menino! Então é bastante comum encontrar goiano que jamais foi à praia. Na minha família, há vários. Minha mãe (“Dona Luz”), 58 anos de pé-rachado, comedora de pequi nata, nunca havia ido. Por isso decidi levá-la, assim como minha irmã e meu cunhado (também novatos no mar). Minha namorada também foi. Mas essa, pelos outros relatos, vocês sabem, é quase peixe, apesar de mineira (sereia dos pães de queijo). E lá fomos nós. Quatro goianos e uma mineira. Proibido sertanejo no carro. Adedonha pode.

“Para Santos?” Nada disso, dig-hey-dig-jow! Sabemos que as praias de lá não são essas coisas. O destino é Ubatuba-SP. O lugar mais próximo com as praias mais variadas e belas possíveis. Isso é tão verdade que desta vez não repetimos nenhuma praia da vez em que eu e Ana em Ubatuba estivemos (carnaval de 2017). É fato que em Paraty-RJ não deu para fugir do circuito Trindade. Mas valeu a pena repetir a dose. É bacana demais aquele lugar. E assim foi. Após mais de 1000kms cansativos, com paradas para almoço em Uberaba-MG e lanchinho em Araras-SP, chegamos exaustos e famintos. Já avançava mais de meia-noite e por sorte ainda havia uma pizzaria aberta em Ubatuba. “Mas vem cá, como foi o encontro dos goianos com a praia?” Queimaram a largada. Não resistiram chegar ao destino final. Passando por Caraguatatuba-SP, descemos do carro e pisamos na areia (sob protestos de Ana). Minha irmã e o namorado fizeram mais, canela dentro d’água no escuridéu e provaram para saber se era mesmo salgada a água. Clássico.

Ficamos hospedados (AirBnb) num apê próximo ao aquário de Ubatuba, praticamente no centro. No dia seguinte fomos à Praia Grande. Pode-se dizer que a Praia Grande é uma praia urbana. Mas olha, vou te dizer, não perde em nada no quesito beleza das praias afastadas. Faixa de areia larga e extensa. A perder de vista. Ondas razoáveis. Muito movimento de pessoas. O engarrafamento ali naquele ponto da histórica BR-101 era considerável. E até por conta do grande contingente, a areia não estava exatamente limpa. Sabe como é, ser humano é complicado. Subi no ponto mais alto da encosta da rodovia para poder tirar umas fotos. Valeu a pena. Confere aí.

Praia Grande, Ubatuba


Depois de já apresentados oficialmente ao mar, levamos os goianos para conhecer outra praia, Santa Rita. Fica ali a poucos quilômetros ao sul da Praia Grande. Mais especificamente dentro de um condomínio, com porteiros e tudo. Deu algum trabalho estacionar o carro. A Praia de Sta. Rita é bem distinta da anterior. Entra-se por um caminhozinho cercado de árvores pelos dois lados. Lá no fim dele, a estreita faixa de areia se inicia. A praia é formada por uma pequena baía. O que deixa suas águas esverdeadas bastante calmas, quase sem ondas. As ondas que ali avançam à areia são provocadas mais pelas embarcações do que pelas correntes marítimas. Ficamos no local por um tempo considerável e voltamos para fazer o almoço. No finzinho da tarde, demos um rolê pela orla da cidade.

Praia de Santa Rita, Ubatuba (Lud e Wyngleisson)


Outro dia. Outra praia. Meu primo Vinícius nos deu a letra para procurarmos a Praia de Itamambuca. Dista a uns 18km ao norte do centro de Ubatuba. Para ter acesso à praia é necessário adentrar um vilarejo de chácaras (um condomínio mais ecológico do que o de Sta. Rita). Itamambuca é uma praia de banho, mas também de surfe, inclusive já sediou circuitos nacionais e internacionais do esporte. Por ficar numa área de reserva ecológica, a praia é bastante limpa e seu início tem vegetação conservada, dando um toque de natureza florestal ao lugar. A faixa de areia é larga e bastante extensa, tanto que não conseguimos ir até seu fim, embora eu e Ana tenhamos tentado. Há uma parte da faixa de areia, mas bem pequena, em que concentram-se barraquinhas, tendas, bares e até mesmo aulas de surfe com uma campeã nacional cujo nome me escapa agora. 

Praia de Itamambuca, Ubatuba (minha mãe fazendo pose de cartomante)


Para quem gosta de água de doce, na extrema margem direita da praia, corre e deságua no mar o Rio Itamambuca. As pedras em suas margens formam um cenário fantástico.

Passagem do Rio Itamambuca para o mar (eu mesmo)


Para finalizar o passeio deste dia e também dos rolês praianos em Ubatuba, seguimos mais ao norte, sentido Praia das Conchas. Não sabíamos exatamente o caminho preciso, pois a trilha tem início em algum ponto da BR. Mas nada que o Google Maps não ajudasse a resolver. Encostamos o carro no matagal e dá-lhe ladeira abaixo. O caminho é curto, não deve dar mais do que 600 metros. Porém é íngreme e em alguns trechos lamacento, escorregadio e com mata fechada. Ao chegarmos pisamos em imensas rochas antes de chegar à praia. Todo o esforço foi recompensado. 

Praia das Conchas, Ubatuba


Como o local é pequeno, inclusive a faixa de areia é estreita e minúscula, e também desconhecido, estava ali apenas nós e algumas poucas pessoas. Não mais do que dez. O lugar é deslumbrante, obra-prima. De cima das pedras avista-se um mar azul clarinho. A pequena faixa de areia é quase toda coberta por conchas, bilhões delas, quebradas, que se chocam nas rochas trazidas pelo mar. O banho não é necessariamente o melhor do local, porque as formações rochosas e as fortes ondas atrapalham o banhista, contudo a contemplação é máxima. Um dos lugares mais belos que já visitei.

Praia das Conchas, Ubatuba (Mormaii, patrocina meu blog)


Ainda era manhã do dia 25 quando chegamos ao vilarejo de Trindade. Deixamos o carro no estacionamento da pousada e seguimos obviamente a pé para a Piscina Natural da Caixa D’aço. Não lembrava que era necessário atravessar uma trilha pesadinha para os níveis da senhora minha mãe. Passamos pela Praia do Meio, pela mata, pela longa Praia da Caixa D’áço, por um punhado de rochas, por outra mata, agora com morro e finalmente chegamos à aguardada piscina natural. Como já tem uma descrição do lugar no relato da primeira vez, não vou ficar me alongando (se quiser ler clique aqui) Nesta oportunidade vimos uma quantidade até maior de peixes sargentinhos, que estão em tudo quanto é praia do Brasil pelo que tenho notado. Contudo a maré estava um pouco mais alta, a água mais turva e a piscina abarrotada de gente. Resumindo, não estava tão legal: parecia Caldas Novas em feriado.

Praia do Meio, Trindade (visão de dentro da matinha)


Não demoramos muito tempo na piscina natural e fizemos o caminho de volta. Despachei minha mãe em um barco para não judiar da coitada da velha. Então, almoçamos num restaurante que des-recomendo, o da padaria na esquina, e voltamos para a praia. Desta vez para a Praia dos Ranchos. O mar estava calmo e aproveitamos para fazer o nosso tradicional rolezinho na orla, quase chegando na Praia do Cepilho, encontrando inclusive um baiacu grandão, morto e sem o rabo, na areia. Nesse dia, minha irmã e meu cunhado se internaram dentro d’água pulando ondinhas. 

Praia de Fora, Trindade
(visão em direção à Praia dos Ranchos)


À noite fizemos um passeio na rua principal do vilarejo, comemos um hambúrguer válido e apreciamos o artesanato local. Em termos de festa e algazarra, Trindade estava bem tranquila. Lembro de anunciarem no carnaval de 2017 que aquela era a cidade que nunca dorme. Não é bem assim. 

No dia seguinte aproveitamos as últimas horas em Trindade curtindo as ondas da belíssima Praia do Meio, com o sol estralando, até me animei entrar na água (coisa rara). Influenciados pela experiência ruim com o almoço da padaria, resolvemos escutar o conselho do dono do hostel (vale mencionar a hospitalidade da Pousada Colibri, de Moisés e família) e fomos ao restaurante Laranjas (algo assim, um cheio de bandeiras de países). Lá comemos um peixe que estava maravilhoso, com camarão e casquinha de siri. Teve gente que nem arroz comeu para sobrar espaço para o peixe. Depois seguimos viagem para Paraty.

Aguardando almoço no restaurante (Ana ❤)


Em Paraty nos hospedamos em um hotelzinho no Jabaquara. É um bairro um pouco mais afastado do centro, mais novo e não faz parte da parte histórica. Porém os preços (já altos) de Paraty estavam ainda mais elevados devido às datas de final de ano. Jabaquara foi a alternativa. Ao chegarmos fomos logo dar uma olhada na Praia de Jabaquara e caminhamos pela orla. Comparadas às praias de Trindade, as de Paraty são bem meia-boca, mas até que a de Jabaquara não parecia tão suja como a outra mais centralizada da cidade. 

Praia de Jabaquara ao entardecer, Paraty


À noite fomos ao centro histórico da cidade, mostrar as ruas de pedra e as infinitas lojinhas de artesanato e souvenires aos goianos. Estranhamente estava bem mais movimentado do que da última vez que estivemos ali, em pleno carnaval. Tinha até uma fanfarra de carnaval rodando as ruas e nos seguindo. Já em clima de festejo, Ana experimentou a famosa cachaça Jorge Amado. Provei e aprovei. Maracujá, gelo, cachaça e segredo (é o que dizem). Deixa bêbado sem nem ver.

No último dia, no dia da despedida, ainda fomos atrás de praia desconhecida. No caso as de Barra Grande. Um outro distrito de Paraty, onde moram basicamente pescadores. Dista a uns 15km ao litoral norte do centro. Havia duas praias ali. Uma era a Praia de Barra Grande. E nesta nem daria para tomar banho, nem nada. Um píer e inúmeros barcos atravancavam o caminho da orla. De todo modo, era aquela areia grossa e mais escura, pouco convidativa. A outra era a Prainha de Barra Grande. Uma caminhada de uns 10 minutos pela trilha após a primeira praia. Com o carro estacionado no distrito fomos até esta última. Faixa de areia limpa, estreita (não tanto quanto a de Jabaquara) e curta, algumas rochas no início da praia, mas nada que atrapalhasse entrar no mar. O pessoal entrou, eu fiquei somente ali na pedra pensando na vida. Mas a praia era bonita, sim. Compensou o adeus.

Prainha, Barra Grande


Na volta fizemos um percurso diferente ao da ida, pois o destino era Passos-MG. Então pegamos a famosa Estrada Real. Uma estrada muito charmosa e arborizada, apesar das curvas, do acostamento estreito ou inexistente e, portanto, do perigo que se apresentava (as calotas pelo caminho eram em dezenas, talvez em centenas). Nota-se um grau de conservação da floresta pois ali há um parque nacional ecológico. Há trechos, por exemplo, em que as árvores formam como se fossem túneis vegetais. Boa parte da rodovia é calçada em pedra e remonta ao período histórico da América portuguesa, já que foi construída para escoar o ouro colonial da região das Minas até o porto de Paraty com destino à Europa. Pobres mulas que carregavam aquele peso tremendo! No meio do caminho, antes de chegar em Cunha-RJ, paramos no restaurante Poço do Tarzam para dar um alô para um ex-aluno meu (Guilherme). Descobrimos que muitas pessoas procuram as cachoeiras da região, as dali era a do Poço do Tarzam, cuja ponte versão Indiana Jones a atravessa, e a do Tobogã, onde uns surfistas de pedra (ou doidos de pedra) deslizam cachoeira abaixo desafiando a unidade de traumatologia do hospital mais próximo. 


* Todas as imagens estão sem filtro. 
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Escrito em janeiro de 2020