Em Ubatuba encaramos a trilha das sete praias. São
mais ou menos 9km de uma caminhada leve a média na maior parte do percurso (mas
com passagens íngremes e longas no último trecho). A aventura começa na Praia
da Lagoinha, cujo nome se refere a um rio manso que deságua no mar. Esta praia
encontra-se a 24km do centro de Ubatuba, então caso vá percorrer a trilha
citada, programe-se. É possível deixar o carro estacionado em um condomínio a
beira da praia, mas também pode-se optar por pegar um ônibus (com itinerário
pouco confiável em feriado) até o local. A trilha localiza-se no final do lado
esquerdo da praia, onde se avistará o Rio Lagoinha. Será necessário tirar o
tênis para atravessar o rio até o início da trilha – desta vez a água sequer
chegou ao joelho, mas pode acontecer de o volume estar maior. Da Praia da
Lagoinha avista-se uma placa no começo da trilha informando que aquele era um caminho
utilizado pelos jesuítas. Pobres índios. Mesmo que esteja fazendo um sol forte,
fique tranquilo pois durante a trilha a mata te protegerá. A próxima parada é a
Praia Oeste e aí o cenário vai começando a ficar cada vez mais deslumbrante, é
impossível não ser hipnotizado pelos tons de azul da água, claros e cristalinos.
Após a Praia do Oeste chega-se à Praia do Perez. Esta praia é relativamente vazia
pois não há quiosques e o lugar parece ser inapropriado para banho devido à
quantidade de pedras que ali se avista. Até neste ponto o caminho é, além de
curto, bastante leve, sem trechos acidentados ou escorregadios. Daí caminha-se
mais algumas centenas de metros até a Praia do Bonete. Agora haverá uma decida, porém
leve. A Praia do Bonete descortina-se frente a seus olhos logo que a fresta da
mata lhe apresenta o término da trilha neste trecho. É bem bonito e
recompensador. Bonete é uma praia mais movimentada, com quiosques, lanchas e
embarcações pequenas e médias. Há rochas em seu lado direito, por esta razão
pode ser interessante subir em uma delas (como fiz) e apreciar a paisagem. Mais
dez minutos de caminhada e chega-se a Praia Grande do Bonete. Esta é uma praia
mais rústica, com extensa faixa de areia fofa, possui uma beleza ímpar e você
se sente um personagem do seriado Lost caso ela esteja vazia. Até aqui, ou
seja, da Lagoinha até a Grande Bonete, a trilha é leve. Sem parada pode-se
chegar em 40 minutos ou menos. Mas seguir em diante, do Bonete sentido Praia do
Deserto, não é recomendável para crianças, idosos, pessoas com dificuldades de
locomoção ou sem preparo físico. Portanto pare no Bonete, relaxe, descanse por
um bom tempo, aprecie a paisagem e depois volte pela trilha ou de barco (não é
certa a disponibilidade).
Praia do Bonete |
Se resolver encarar o desafio, prepare-se, são
mais 1,5km da Praia do Bonete às Praias do Deserto e do Cedro (apenas um conjunto
de rochas as dividem) e mais 4km até o fim, na Praia da Fortaleza. Porém são
trechos íngremes, escorregadios (se tiver chovido) e cansativos para quem já
andou desde a Lagoinha. De todo modo, as Praias do Deserto e principalmente do
Cedro vão redimir seu esforço. A Praia do Cedro possui um quiosque que serve
porções, salgados e bebidas. Se tiver cheia, vai demorar um bocado. Mas de todo modo será uma energia importante para seguir caminho. A praia é graciosa e caso você
tenha sorte poderá mergulhar com peixinhos sargentos e tartarugas marinhas que
nadam até as rochas litorâneas para se alimentarem. Minha companheira de viagem
Ana, formada em biologia e fã incondicional de tartarugas, teve esta sorte e
encontrou duas no dia em que fomos. Uma delas impressionava pelo tamanho. Consegui
avistá-las de cima das rochas. Comparada a do Cedro, a Praia da Fortaleza é
bastante sem graça. Cheia de pessoas, de poluição sonora, de ranchos, de bares
e embarcações. Além disso a cor da água é mais escura e a areia estava cheia de
algas. A única importância da Praia da Fortaleza no roteiro deve-se ao
acesso à rodovia, acesso distante, ressalto. São uns 9km de asfalto até chegar à BR e o último ônibus passa às 17h da tarde (e é bom se informar para saber se
o mesmo está circulando normalmente no dia em que for. Caso contrário separe um
dinheiro a mais para retornar de barco até a Praia da Lagoinha).
Paraty-RJ
“Pequena cidade histórica, muito badalada, cheia
de turistas estrangeiros, noite pulsante e boêmia”. Foi a propaganda que me
fizeram a respeito de Paraty... e acertaram em partes. A expectativa sinceramente não era
grande, mas ainda assim ficou abaixo do esperado. Talvez por ter ido duas vezes
a também histórica Ouro Preto-MG, talvez por ter conhecido praias lindas no dia
anterior, não achei a cidade em si grandes coisas. Realmente trata-se de uma
versão menor de Ouro Preto, mas sem morros ou inúmeras igrejas, com praias
(urbanas e pouco convidativas) e especialmente sob um calor dantesco. Apesar
disso Paraty tem lá seu charme, sobretudo em sua parte histórica (um bairro
pequeno com ruas de pedras e casarões que margeiam a praia central). Disseram que
a noite era efervescente, entretanto não vi nada demais. Poucas ruas da parte
histórica possuem movimentação. E por conta da presença intensa de gringos, os
preços são bem caros (exceto pela hospedagem que estava na média de cidades litorâneas).
A graça de Paraty são as praias e vilas que ficam a muitos quilômetros de
distância da cidade. Ficamos um dia na Vila de Trindade e visitamos a Praia do
Sono, no último dia, antes de pegar a estrada de volta.
Vila
de Trindade
A estrada que dá acesso à Vila de Trindade fica a
17km da saída de Paraty, seguindo em direção a Ubatuba pela BR-101. Depois são
mais uns 6km rodando em uma estrada pavimentada, íngreme, sinuosa e estreita
até chegar à vila. Logo na entrada a pessoa vê a bela e agitada Praia do
Cepilho. A vila é simples, mas bonitinha e estruturada (pousadas, bares,
restaurantes, lojas de roupas e souvenires, artesanatos na calçada, miçangas,
mais miçangas). É um ponto de encontro da galerinha roots alternativa e “legalize
djá”. Havia bastante movimento no dia em que lá estivemos pois era terça-feira
de carnaval. Logo que chegamos passeamos pelas Praias de Fora e dos Ranchos. Cenário
muito aprazível aos olhos apesar do abarrotamento de gentes, quiosques e bares
à beira-mar. Tanto a hospedagem quanto a comida tinham preços aceitáveis. À noite
fomos a um barzinho que vendia cerveja artesanal e estranhamente tocava rock n’
roll em pleno carnaval, isto perto de um trio elétrico e ser humaninhos de abadá. A banda (a
do bar) inclusive era muito boa e contava com a participação de dois
integrantes do Ultraje a Rigor (o baterista Bacalhau e o guitarrista Mingau que,
aliás, dizem ter uma casa ali na vila). No dia seguinte, logo cedo, fomos à
Praia do Meio e a Praia e Piscina da Caixa d’Aço (ou Cachadaço). Nelas o número
de turistas era menor e a beleza era ainda maior. A Piscina Natural da Caixa d’Aço
é algo sem igual. Um amontoado de rochas de variados tamanhos formou um local
propício para aqueles que gostam de mar mas não curtem driblar ondas. A piscina
é relativamente extensa e rasa, dá até mesmo para observar peixes coloridos nadando
em sua volta pois as águas são semicristalinas. Com certeza um dos lugares mais
bonitos em que estive neste passeio. De lá seguimos para outra atração de
Trindade, a Cachoeira da Pedra Que Engole. O acesso se dá por uma trilha de
cerca de 1,5km, com trechos difíceis. Ao chegar ao local fica-se um
pouco decepcionado porque a tal cachoeira não passa de uma pequena cascata. A única emoção
é entrar de corpo inteiro em uma pequena fresta entre as pedras, ficando sob
uma rocha gigante e dentro de um mini poço escuro e cavernoso segundos antes das
leves corredeiras te jogarem para fora como se fosse um tobogã. Daí o nome a “Pedra
Que Engole” (ou cospe). Tem que se tomar cuidado, devido ao piso escorregadio, além de engolir e cuspir, a pedra também pode derrubar. Teve gente que caiu. :D
Praia
do Sono
Disseram-nos para passar na Praia do Sono.
Diferente das praias de Trindade, chegar à Praia do Sono não é tão fácil. Só
existem dois caminhos: trilha ou barco. Para encontrar a estrada que dá acesso
ao lugar, o trajeto é o mesmo que o de Trindade. Porém, em vez de seguir
adiante (se está vindo de Paraty), entra-se à esquerda. Roda-se uns 3km até
chegar a um condomínio chique, o Laranjeiras. Daí estaciona-se o carro na vila
dos funcionários do condomínio (também tem como pegar um ônibus de Paraty até
este ponto) e caminha-se numa trilha longa de uns 3km de dificuldade média
devido às subidas e decidas (ou, como dito antes, paga-se uns 30 reais para ir
de canoa até a praia). Gastamos uns 50min para chegar à praia. Mas olha, vale a pena. Que lugar incrível! Do alto da serra avista-se as areias
brancas sendo desenhadas pelas batidas mansas das ondas. Tudo muito rústico. Não
há pousadas nem ruas. Uma diminuta comunidade caiçara mora ali. O ritmo da vida
nesse paraíso passa mais lento e tranquilo. O surrealismo da Mata Atlântica ainda
preservada ao lado te remete a um clássico da sessão da tarde, o filme Lagoa
Azul. Mas existem bares servindo bebidas e refeições, bem como locais para acampar. Se quiser percorrer mais trilhas encontrará o caminho à Praia de Antigos
(700m de terreno bastante acidentado e escorregadio) e de Antiguinhos (1,8km,
imagino que do mesmo nível). Fomos até o primeiro. Local estava praticamente
deserto mas naquele momento inadequado para banho por causa das pedras e das
fortes ondas. De toda forma, uma maravilha da natureza.
Por fim, registro meu medo de voltar de canoa até
o estacionamento, ventava e aos meus olhos o mar começou a ficar agitado. “Não
vou nesse bote nem me pagando”, disse. Ana, mais corajosa, pagou e foi. Eu voltei
correndo pela trilha e assustando algumas pessoas que também voltavam. Pensei que
pudesse chegar mais rápido do que ela. Um senhor que fazia a trilha me viu pulando
os degraus e perguntou se a pressa devia-se por conta do ônibus. “Não! É uma
aposta. Como se chega mais rápido: de barco ou a pé!?”, respondi. Ao cabo,
sentei na calçada e algum tempo depois ele passou e me vendo esbaforido,
questionou: “E aí, ganhou?”. “Não, perdi. Ela já havia chegado. Fiz em 27
minutos”. “Olha, parabéns! Bateu o recorde”, disse me consolando. Mas o verdadeiro
prêmio foi um banho numa ducha de água fria, comprado do barzinho ali no vilarejo, foram os três reais mais bem investidos da minha vida. Limpo, satisfeito e feliz o calango voltou para o cerrado.
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16 de mar. 2017
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